Estudante de medicina vira detetive de vídeos de saúde na internet
Nathália Monerat avaliou 1.152 postagens no Youtube sobre doenças do coração e adverte: 95% têm informações erradas
A estudante de medicina Nathalia Monerat decidiu avaliar a qualidade dos vídeos de saúde da internet e reprovou a maioria
Ela nasceu em meio ao boom da internet e cresceu fazendo lição de casa no computador. Ao escolher medicina como carreira – depois de vasculhar em sites de busca qual era a melhor opção – a estudante Nathalia Monerat, 23, resolveu pesquisar como a saúde é retratada no mundo virtual.
Os resultados do estudo foram selecionados para o congresso promovido pela Sociedade de Cardiologia do Rio de Janeiro (Socerj). Para uma plateia de médicos e acadêmicos com longa experiência, Nathalia – que está no último dos seis anos da graduação – defendeu a tese de que o profissional que fica distante da web, seja ele de qualquer idade, facilita a “contaminação” dos internautas por informações erradas sobre saúde.
Para embasar a análise, a universitária do Centro Universitário de Volta Redonda (RJ) virou uma espécie de detetive da internet. Durante seis meses, ela investigou todos os vídeos postados no Youtube que falavam sobre hipertensão ,arritmias e insuficiência cardíaca – as três principais causas de morte entre os brasileiros.
“Foram 1.152 vídeos que continham informações sobre doenças relacionadas ao coração e que se propunham a falar sobre os temas selecionados. Assisti um por um”, conta ela, que faz parte do GETICMED, grupo da faculdade que investiga o uso da tecnologia na medicina.
Os resultados não foram bons: 95,7% continham informações erradas. Ou seja, só 4,3% passaram na avaliação de Nathalia.
“Os vídeos foram feitos por leigos, em geral pacientes contando suas histórias, por entidades que promoveram campanhas, reportagens dos mais variados veículos e por médicos”, conta Nathalia.
“Os principais erros eram dar nomes errados para as doenças e descrever informações equivocadas sobre sintomas e tratamentos. Os vídeos feitos por médicos eram os mais corretos”, pontua.
Segundo Nathália, a pesquisa tem como objetivo aproximar a comunidade médica do meio virtual, incluindo os profissionais mais velhos, que costumam ser resistentes a novas tecnologias.
“Não dá para fugir. O paciente é um curioso. Tudo que for falado para ele dentro do consultório imediatamente será pesquisado quando ele sair da consulta”, diz.
“O melhor dos mundos é juntar conhecimentos. Por vezes, o saber médico não tem a linguagem ideal para a internet e é importante encontrar um parceiro, seja da área de comunicação ou outra, que ajude a fazer isso essa conexão”, complementa.
Em 90 dias, Nathália conquista o diploma de médica e completa 24 anos. Escolheu a área da cardiologia para fazer a especialização e já projeta como estará em 10 anos.
“É bem provável que faça os acompanhamentos dos pacientes por e-mail. Mas nada substitui o contato físico e escutar a história do doente. Será um misto de medicina real e medicina virtual”, diz.
Fonte: IG